Pesquisa inédita do CBMMS é destaque em evento sobre incêndios
O tema sobre intoxicação por monóxido de carbono (CO) durante combate de incêndios foi apresentado no 1º Seminário Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (SNPCIF)

Com destaque no cenário nacional por aliar inovação científica à prática operacional, o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS) apresentou um estudo inédito em relação a intoxicação por monóxido de carbono (CO) pelos brigadistas em combate aos incêndios florestais, durante o 1º Seminário Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (SNPCIF), promovido pelo CBMDF, em Brasília.
O estudo científico, conduzido pelos tenentes-médicos Rodolfo Vagner Xaubet e Pietra Zorzo, do CBMMS, traz dados inéditos em relação a exposição ao CO durante o combate de incêndios florestais - realidade recorrente no Brasil.
A pesquisa realizou a análise de 12 bombeiros-alunos durante atividades práticas do curso de combate a incêndios, com medições feitas antes e depois dos turnos de trabalho, utilizando um oxímetro portátil de alta precisão.
Exposição invisível e riscos reais
O monóxido de carbono é um gás inodoro, altamente tóxico e considerado a principal causa de mortes por intoxicação inalatória no mundo. A pesquisa indica que todos os militares avaliados apresentaram níveis detectáveis de carboxiemoglobinemia - substância que resulta na ligação entre o CO e a hemoglobina - com variação de 2% a 12%.
A intoxicação, segundo os pesquisadores, tende a se acumular ao longo dos turnos operacionais.
“A partir de 12%, já existem relatos de lesões cardíacas em outros estudos. E mesmo valores considerados baixos já indicam que o organismo está em situação de estresse”, explica o Tenente Rodolfo Xaubet.
A exposição silenciosa ao gás pode gerar consequências fisiológicas graves:
“O corpo tenta compensar a falta de oxigênio aumentando a frequência cardíaca e respiratória, mas isso, por si só, aumenta a ventilação e, com ela, a absorção do próprio monóxido de carbono", explica Xaubet.
Conforme destacado pelos autores, o ciclo fisiológico pode levar ao desequilíbrio entre a oferta e consumo de oxigênio pelos tecidos, especialmente o coração. Com frequências cardíacas acima de 150 bpm, pode levar a redução do tempo de enchimento das artérias coronárias, elevando o risco de arritmias e até de eventos cardiovasculares agudos.
Monitoramento e prevenção
O estudo propõe uma alternativa não invasiva e de baixo custo para monitoramento em tempo real da intoxicação, usando tecnologias disponíveis como o uso do oxímetro Rad-57, que permite aferições rápidas e com margem de erro mínima em relação à gasometria arterial, considerada padrão-ouro em ambiente hospitalar.
A coautora da pesquisa, tenente Pietra Zorzo, reforçou durante o evento a necessidade de disseminar essas práticas nas demais corporações, destacando que a URSA - Unidade de Resgate e Suporte Avançado, criada para oferecer suporte médico a ocorrências de alta complexidade, vem sendo procurada por outros estados do país interessados em replicar o modelo.
Zorzo salienta ainda que, com a valorização da saúde ocupacional do bombeiro, a corporação eleva seus padrões de atuação em campo e protege seu maior ativo: e efetivo humano.
A tenente aponta que os resultados da pesquisa reforçam a importância de protocolos mais rígidos de rodízio, descanso e uso de equipamentos de proteção respiratória durante o combate aos incêndios.
"Hoje somos referência nacional, porque outras corporações vêm até nós pedindo informações sobre o serviço, sobre como foi criado, sobre todo o funcionamento”, afirmou Pietra.
Implicações práticas
Os dados evidenciam a necessidade de:
- Monitoramento sistemático e não invasivo da intoxicação por CO durante os turnos operacionais.
- Revisão de protocolos de descanso e rodízio de efetivo, especialmente em ambientes com alta carga de fumaça.
- Sensibilização fisiológica dos profissionais para compreender os sinais precoces da intoxicação e os riscos cardiológicos associados.
Avanço científico e valorização da tropa
Além o ineditismo, estudo contribui de forma relevante para a literatura da medicina de emergência e saúde ocupacional militar, ao abordar o risco pouco estudado no Brasil. A exposição progressiva ao CO não pode ser percebida de forma imediata, mas pode comprometer o desempenho do militar, afetar sua saúde a longo prazo e, em casos extremos, levar à morte súbita - como já registrado em episódios recentes no país.
Os pesquisadores esperam que os dados possam auxiliar nas novas diretrizes operacionais e campanhas internas de conscientização.
“Estamos apenas começando. Nosso objetivo é ampliar esse estudo com mais participantes e em diferentes cenários operacionais, para que o Corpo de Bombeiros possa tomar decisões baseadas em evidência científica”, concluiu Xaubet.
Reconhecimento e futuro
Com a apresentação da pesquisa no SNPCIF, com a presença de especialistas de todo o país, o marco do reconhecimento do trabalho desenvolvido no Mato Grosso do Sul, consolida também um modelo que alia ciência aplicada à realidade operacional do Corpo de Bombeiros. O estudo reforça a credibilidade da URSA como centro de referência nacional e evidencia o papel estratégico da Diretoria de Saúde do CBMMS na produção de conhecimento técnico voltado à segurança e saúde dos militares.
O diretor da Diretoria da Saúde, coronel Cezar, coordenador dos serviços da URSA, o trabalho simboliza um novo patamar para a corporação.
“Mais do que um avanço técnico-científico, essa pesquisa demonstra nosso compromisso permanente com a proteção da tropa, o aperfeiçoamento dos protocolos de resposta e a construção de soluções baseadas em evidência para os desafios do serviço operacional”, afirmou.
Confira a apresentação da pesquisa pelo Tenente Xaubet no evento clicando aqui.
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