MS registrou dois casos de feminicídio em pleno Agosto Lilás, aponta delegada da Deam
“Costumo dizer que quase 100% dos casos de feminicídios vêm de relacionamentos abusivos”, ressalta Elaine Benicasa
No mês de enfrentamento aos crimes de violência contra mulher, Mato Grosso do Sul registrou dois casos de feminicídio. Em entrevista ao Noticidade Primeira Edição, da FM Cidade 97, a delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), Elaine Ishiki Benicasa explicou os números no estado e traçou o perfil dos autores em grande parte dos crimes. “Costumo dizer que quase 100% dos casos de feminicídios vêm de relacionamentos abusivos”, ressalta.
O Agosto Lilás é uma campanha de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher, instituída por meio da Lei Estadual nº 4.969/2016, O objetivo da ação idealizada pela Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres (SPPM) é intensificar a divulgação da Lei Maria da Penha e os serviços especializados da rede de atendimento à mulher em situação de violência e os mecanismos de denúncia existentes.
“Crimes de feminicídio são crimes de ódio. O homem age de uma forma raivosa e demonstra isso nas suas atitudes. Nós observamos isso após a análise, em como ele deixa marcas profundas no corpo da vítima", explica. A delegada, ainda, ressalta o aumento do número das ocorrências em Mato Grosso do Sul.
A titular da Deam esclareceu dois cenários do feminicídio no estado. Conforme a delegada, os crimes aumentaram no território sul-mato-grossense, e, apenas na capital, que possui até a presente data seis feminicídios consumados, as ocorrências alcançam o menor indicativo da média de feminicídios, entre 2015 e 2022, que é de 5 a 8 por ano, faltando cerca de um semestre para encerrar o calendário. “Em termos gerais, a violência doméstica como um todo tem aumentado em todo o país”, reforça.
Elaine Benicasa, ainda, explica que os feminicidas, isto é, aqueles que cometem os crimes, apresentam indícios antes de chegar ao estágio final da violência contra mulher. “Aquele homem que controlava a vida, que sentia um ciúme absurdo dela, que a humilhava. É importante trazer não só que as mulheres precisam denunciar, mas que elas consigam perceber o relacionamento abusivo para que isso não se agrave, e ela acabe nas estatísticas do feminicídio”, observa.
Outro ponto abordado pela titular da Deam é quanto ao tempo de duração do relacionamento. “Não são só casais recentes que podem passar por isso, mas os casais mais antigos também. Inclusive, nesses casos muitas vezes o homem vem de uma educação tradicional, conservadora, e acredita que a relação sexual no casamento, por exemplo, é algo obrigatório, fazendo muitas vezes com que a mulher tenha relações por obrigação”, esclarece.
A delegada reforça a importância de vítimas que tiverem a integridade física e moral ameaçada podem entrar com medida protetiva contra o autor. “É uma mentira dizer que a medida protetiva não funciona. É um dos maiores e melhores instrumentos da Lei Maria da Penha. A vítima possui esse instrumento ao seu favor e deve sim, quando procura a Polícia Civil, pedir a proteção”.
Para solicitar o instrumento de defesa, a vítima pode procurar qualquer Delegacia de Polícia (DP) do município, além de o site do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS). A mulher vítima desse tipo de violência que deseja denunciar seu abusador deve preencher o formulário de avaliação de risco no local destinado à solicitação de medidas protetivas de urgência e o pedido será encaminhado para análise do juízo da Vara de Medidas Protetivas, de forma simples, rápida e de fácil acesso.
Últimos casos - No último dia 2 de agosto, Mato Grosso do Sul registrou o 26º e o 27º casos de feminicídios no ano. A primeira vítima, Luciana Carvalho, de 45 anos, foi morta pelo companheiro, Inácio Pessoa Rodrigues, de 47 anos, com dois golpes de faca após discussão na pequena residência em que conviviam, na Avenida Júlio de Castilho. A crueldade de Inácio foi tamanha que o feminicida matou Luciana na cozinha, deixou a arma no local do crime e continuou na casa até a manhã seguinte, na sexta-feira, 29 de julho, quando saiu para trabalhar. À noite, retornou para a residência para dormir. A rotina se repetiu até o início da semana, quando o crime foi descoberto.
A última vítima foi a indígena guarani-kaiowá, Rosa Rodrigues estrangulada até a morte com cordão de peça de roupa pelo marido. Testemunhas relataram que o autor entrou no imóvel junto com a esposa. Minutos depois, ele teria saído do local e falado que Rosa teria se enforcado. A versão do homem chamou atenção da comunidade e Reinaldo foi detido pelos seguranças da aldeia até a chegada da Polícia Militar.
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