Polícia

'Meu pai odeia quem é de olho castanho', disse filho do agressor que empurrou menina negra em escola

Segundo a defesa da família da menina, a declaração deixa claro o preconceito existente e enraizado

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Marina Romualdo
A criança é empurrada pelo agressor, acaba tropeçando em sua mochila e fica acuada de medo no canto da parede (Foto: Reprodução)

O menino de 4 anos que foi retirado pelo próprio pai de perto da colega negra, de também de 4 anos, dentro da Escola Municipal Professora Iracema de Souza Mendonça, passou por depoimento especial na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA). Ele afirmou que o ódio do pai de quem "olhos castanhos".

Segundo as advogadas da família da menina, Lione Balta Martins Cardozo e Flávia Heloisa Anselmo, o teor chama a atenção de forma estrondosa. "Antes mesmo da finalização do inquérito, já nos havia sido informado que numa análise detida de todos os fatos e depoimentos, não haviam sido localizados nenhum indício do crime de racismo, e que seria o fato ocorrido enquadrado apenas como vias de fato".

No entanto, quando ocorre o depoimento do menino e é perguntado sobre o que ocorreu no dia 11 de março, a criança relatou que a pequena o abraçou uma única vez e declarou com suas palavras que “o meu pai não gosta que me pega, é porque meu pai só gosta de quem tem olho azul, ele odeia quem é de olho castanho [sic…]”. Além disso, alegou ainda que apanha do genitor de chinelo e cinto quando faz arte.

"A declaração do infante deixa claro o preconceito existente e enraizado, cujo qual, a criança tem plena consciência apesar de sua pouca idade, mas que a polícia não. Não bastasse a agressão em si, o ódio de que o filho do acusado se refere, transparece e fica evidenciado pelo vídeo que foi amplamente compartilhado, no qual se vê uma frágil garotinha de 4 anos sendo empurrada, tropeçando em sua mochila, e ficando acuada de medo no canto da parede", declarou as advogadas.

(Vídeo: Reprodução)

Além disso, o próprio suspeito, que é pedreiro, durante o depoimento falta com a verdade ao tentar culpar a vítima pelo ocorrido, alegando seu nervosismo ter sido motivado por razão de o filho não gostar de ser abraçado, onde em um trecho de seu depoimento alega – "ela estava abraçando a criança e o meu filho estava quase chorando". Porém, de acordo com as advogadas, o vídeo é claro e mostra que o menino não apresentou resistência de modo a cessar o abraço e, ainda, quando o agressor chega até as crianças, elas não estavam mais sequer em contato, de modo que não havia qualquer necessidade de empurrar a menina.

"Apesar de toda a investigação e do depoimento chocante realizado pelo próprio filho do acusado, é estarrecedor que a polícia não veja o cristalino preconceito no caso, e que, se não fosse a comoção popular e seus pedidos de providências, o caso pudesse ser apenas mais um dia comum em um país já tão desigual. A família e sua assessoria lamentam profundamente o enquadramento do caso e a postura adotada pela polícia especializada, e informa que tomará todas as medidas judiciais necessárias", finalizaram Lione e Flávia.

 

 

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