'Estava nervosa', alegou dona de creche presa por torturar e dopar crianças, em MS
Caroline Florenciano Dos Reis Rech, de 30 anos, é investigada por outros cinco crimes e segue presa
A proprietária da creche "Cantinho da Tia Carol", Caroline Florenciano Dos Reis Rech, de 30 anos, continua presa por torturar e dopar crianças, em Naviraí (MS). Ela e a funcionária, Mariana de Araújo Correia, de 26 anos, foram presas na última segunda-feira, 10 de Julho, no local que fica localizado na Rua Margarida, no bairro Sol Nascente.
A equipe do Diário Digital teve acesso ao interrogatório de Caroline. Ela nega que já tenha agredido alguma crianças, nega que já tenha batido a cabeça de alguma criança no sofá ou que tenha colocado pano na boca de alguma criança.
Na documentação, a dona da creche ainda afirma ser mãe de um menino e afirma que errou, mas não ministrou nenhum tipo de remédios em crianças e nem mandou ministrar. "Irei me matar, porque se for liberta ou for para o presídio, estou ferrada", disse a investigada.
Além disso, Caroline explica que há quatro anos começou a cuidar de 22 crianças em sua casa. No entanto, no mês de janeiro deste ano, alugou o prédio que fica no bairro Sol Nascente, onde já funcionava uma creche e passou a cuidar de 36 crianças. Ela relatou que nunca teve problemas relacionado à agressão, mas que os problemas começaram na sexta-feira, dia 07 de Julho, quando uma das crianças, de apenas 2 anos, quebrou a televisão do local.
"Ontem, eu estava nervosa, porque precisei comprar outra televisão. Tem a uma outra aluna, que dá muito trabalho. Eu coloquei ela forçada para ficar deitada no chão, porque eu já estava nervosa e ele não parava quieta", salientou a proprietária da creche. Indagada sobre agressão, ela disse que "só coloquei ela deitada com força e dei uns tapinhas assim na cabeça dela para ela dormir e quem dá mama e banho nela não sou eu".
Em relação aos remédios que são ministrados para os pequenos, a mesma nega novamente e relatou desconhecer qualquer tipo dessa atitude. Caroline foi presa em flagrante na segunda-feira (10) e está sendo acompanhada pelo advogado, Mauro José Gutierre. Ela é investigada por outros cinco crimes entre injúria, lesão corporal, dano e entre outros.
Já a funcionária, Mariana Correia pagou fiança e foi liberada por não ter antecedentes criminais. Ela foi vista pelo videomonitoramento instalado pela polícia, ministrando algum remédio para uma bebê, de 11 anos, que dormiu por horas. Ela não tem nenhuma formação para trabalhar na creche.
O caso – O delegado regional de Naviraí, Thiago José Passos da Silva explicou que o videomonitoramento foi instalado pela equipe do Departamento de Inteligência da Polícia Civil sem que a proprietária da creche ou vizinhos soubessem. Foi por meio das imagens captadas que a ocorrência dos crimes de tortura e exposição da vida e saúde à risco foi confirmada. “Imediatamente após a instalação desse equipamento nós começamos as interceptações, de fato, na segunda-feira (10), quando foram registradas imagens fortes de agressões e tortura de crianças naquele estabelecimento".
A ação da Polícia Civil no caso exigiu agilidade, “até para não expormos essas crianças ainda mais à presença dessa pessoa, porque as agressões eram constantes”, reforçou o delegado. A proprietária do local, Caroline dos Reis foi presa em flagrante por tortura qualificada e exposição da saúde de outrem à perigo.
Segundo a delegada-titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DAM) de Naviraí, Sayara Quinteiro Martins Baetz, as agressões foram captadas horas após a instalação das câmeras. “Iniciamos o monitoramento na segunda-feira de manhã e logramos êxito em identificar imagens onde havia realmente a confirmação da totura”, afirmou.
Conforme noticiado anteriormente pelo Diário Digital, as imagens de agressões capturadas foram contra uma bebê, de apenas 11 meses. A delegada Sayara, detalhou que a menina foi sacudida, jogada contra colchão e estapeada “simplesmente pelo fato de ela estar chorando”. As agressões serviam como forma de castigo. “Nós também percebemos que a bebê dormiu grande parte do tempo em que ela estava ali e isso não seria normal para um bebê daquela idade, então possivelmente havia sim administração de medicamentos”.
Além disso, a funcionária também foi flagrada administrando os remédios que induziam o sono nas crianças. Segundo a delegada, a medicação é comumente utilizada para tratamento de vômitos e enjoos, proibida para crianças menores de dois anos. Ela foi presa pelo crime de exposição da saúde de outrem à perigo.
O caso veio à tona após uma ex-aluna da creche relatar a educadores de uma escola de Naviraí o ocorrido. Os profissionais acionaram o Conselho Tutelar, que levou o caso à Polícia Civil. “A criança frequentava o estabelecimento. Ela não tinha sido vítima, mas estava tendo crises de ansiedade, choro constante, vômito, não conseguia ir direito para a escola, porque havia presenciado cenas que configuravam verdadeiras sessões de tortura”, explicou a delegada.
Investigação – Até o momento, 10 mães foram ouvidas e as investigações sobre o caso continua. “As mães começaram a relatar que as crianças chegavam em casa com fome, com sede, sonolentas, dormiam o restante da tarde e a noite, sem acordar, e tinham dificuldade de acorda no dia seguinte”, pontuou a delegada.
Vale destacar também que algumas delas, chegavam arranhadas e machucadas. Sayara destaca que "as mães cobraram isso da proprietária da creche, mas receberam alguma devolutiva de que a criança tinha se machucado, mordido a língua, ou que não gostava de determinado alimento”.
A delegada também explicou que alguns pais capturaram imagens dos filhos sonolentos e sem reação. “Nós ouvimos agora relatos de que havia crianças que faziam ‘xixi’ na creche e a cuidadora chamava as outras crianças e as obrigava a chamar de ‘mijão’, porque senão elas ficariam de castigo, e uma série de condutas que humilhavam essas crianças”.
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