Polícia

'Ela é um monstro', diz avó do bebê que morreu por ser espancado pela mãe e padrasto na Capital

A última despedida da criança de 2 anos ocorreu na tarde desta terça-feira (13) sem a presença da mãe e do pai

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Marina Romualdo
A avó materna do bebê, Maria Aparecida de Jesus durante o velório (Foto: Luiz Alberto)

"Eu não a considero minha filha. Ela é um monstro", diz avó materna do pequeno Jhemerson de Jesus, de apenas 2 anos, que morreu na segunda-feira (12) após ficar internado em decorrência do espancamento que sofreu de sua mãe, Marcieli de Jesus Vieira, de 19 anos, e do padrasto, Eduardo José Pereira Barbosa, de 24 anos, em uma residência no bairro Jardim Colibri, em Campo Grande.

O velório da criança ocorreu na tarde desta terça-feira (13) no Cemitério Jardim da Paz, na BR-060, após uma vaquinha solidária para ajudar a família a sepultar o bebê, já que não possuíam condições financeiras para o enterro. Durante o momento difícil, a avó materna, Maria Aparecida de Jesus, pediu por justiça pela morte do neto.

Na conversa com a reportagem do Diário Digital, Maria, que é dona de casa, reafirmou por diversas vezes que estava arrasada por tudo que estava passando e tinha esperança que o Jhemerson iria sobreviver. "Eu não queria ver ele daquele jeito ali [apontou para o caixão], eu lutei até a última hora. Ainda bem que conseguimos arrecadar o dinheiro para fazer o velório, foi tudo por ele, ele merecia".

"Por isso que eu quero justiça. Tudo isso que aconteceu comigo, não entra na minha cabeça. Eu não tenho nem palavras, pois, são muitas coisas. Eu não esperava isso da Marcieli. Sou mãe de 6 e todos os meus filhos, eu criei sozinha e batalhei para isso. E, agora, ela fazer cometer esse crime e principalmente com o filho dela?!  Sempre digo, que se ela deve, ela tem que pagar", ressaltou Maria Aparecida.

Maria Aparecida reafirmou por diversas vezes que não considera a mãe de Jhemerson mais como sua filha (Foto: Luiz Alberto)

Segundo a avó do pequeno, Marceli se envolveu com o Eduardo e tirou as crianças de perto dela. "Eu não estava mais tendo contato com eles. Eu dava conselhos para ela, mas ela não aceitava e ia embora de casa. Eu já havia pedido para ela morar junto comigo para cuidar das crianças, mas ela nunca quis e quando ficava por lá, fugia à noite e deixava só as crianças comigo. Por isso que eu digo que ela não era uma boa mãe e o pai também nunca ajudou em nada. Quem arcava com tudo sempre fui eu.

"Quase todas as noites eu escuto ele me chamando, Jhemerson era uma criança calma. Não dava trabalho e amava um café. Ele se dava super bem com a irmãzinha, de 4 anos, que está no abrigo e nem sei como ela vai ficar depois que souber de tudo. Inclusive, tenho esperança de ficar com aguarda da minha neta. Ela ainda vai ser criada comigo", afirmou a dona de casa. Indagada sobre a relação amorosa da filha com o companheiro, que estão presos, a mãe de Marceli destaca que Marceli preferiu a vida do filho dela, do que a do "cara" que está com ela.

Jhemerson de Jesus morreu após ficar uns dias internados com diversas fraturas pelo corpo (Foto: Reprodução/Rede Social)

"Ele [Eduardo] já agrediu as crianças e ela em outras ocasiões. Então, essa é minha maior revolta, ela via que os pequenos estavam sendo agredidos e mesmo assim não fez nada. Por qual motivo ela não pediu minha ajuda? O Jhemerson, era um menino inocente e isso me dói. Foi embora um pedaço de mim. Então, preciso ser forte e lutar até o fim por justiça. Eu não considero Marceli como filha e muito menos, o pai das crianças, Willian Belmonte, que no momento em que mais precisei, não estava para me ajudar. E, agora, ainda fugiu com a documentação da minha neta de 4 anos e não sabemos o paradeiro dele. A última vez que tive notícias dele foi no sábado (10), depois disso, ele não ajudou nem no velório. Por isso e outras coisas, quero a justiça e aguardo que ela seja feita".

Já a amiga da família que está acompanhando avó durante o tempo de luto, Edileuza Luiz, expôs que o sentimento hoje é de revolta. "É uma revolta muita grande. É uma tristeza saber que um inocente morreu e essa criança não tinha como se defender. E, por isso, que queremos justiça e eu peço que as autoridades olhem mais para as periferias e, não só quando acontece um crime desses".

"Sabemos que a família precisa cuidar, mas temos o Conselho Tutelar que pode se aproximar e ajudar no cuidado das nossas crianças. Pois, depois que acontece, não adianta fazer mais nada. Temos que fazer quando nossas crianças estão vivas. Lembrando também que esse não é o primeiro caso e se deixar do jeito que está, infelizmente os números [dos crimes contra crianças] vão continuar aumentando", finalizou Edileuza.

A amiga da família, Edileuza Luiz, pede justiça pela morte do pequeno Jhemerson (Foto: Luiz Alberto)

O caso – No dia 23 de janeiro, a criança deu entrada em estado gravíssimo na Santa Casa, após ser espancado pela mãe e pelo padrasto em uma residência no bairro Jardim Colibri. A mãe, Marcieli de Jesus Vieira, de 19 anos, levou o pequeno para unidade hospitalar e informou que ele havia caído de um degrau enquanto brincava com a irmã de 4 anos.

Diante disso, a Polícia Militar foi acionada para comparecer no hospital, onde o caso seguiu sendo investigado pela Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA). Com isso, a equipe policial iniciou uma investigação e concluiu que a mãe e o padrasto, Eduardo José Pereira Barbosa, de 24 anos, foram os autores das agressões contra a criança. A jovem e o homem foram presos temporariamente na manhã no dia 1° de fevereiro e devem responder por tentativa de homicídio. Porém, agora com a morte do bebê, o crime deve mudar para homicídio.

Eduardo e Marceli seguem presos pelo crime (Foto: Reprodução/Rede Social)

Durante a coletiva de imprensa, a delegada responsável pelo caso, Nelly Macedo, afirmou que a maior dificuldade foi estabelecer a dinâmica sobre o que aconteceu com a criança, pois, havia muitas inconsistências do que foi notificado para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) no dia dos fatos.

"Foi informado que a criança teria caído em uma via pública e as diligências no local não deixava o fato concluído. Mas, havia o relato da mãe do bebê no hospital relatando que o pequeno teria caído da escada da residência, de onde estavam morando. Porém, as lesões na criança eram mais graves como - trauma no pulmão, fígado, crânio e líquido no abdômen e isso fez a equipe policial suspeitar de tentativa de homicídio", explicou Macedo.

Segundo a delegada, o casal era moradores de rua e nas imagens de câmera de segurança foi possível analisar que no dia dos fatos, os dois correm com a criança no colo e acionaram o SAMU em uma rua próxima à residência que ocorreu os espancamentos. "Sendo assim, foi possível constatar que a criança foi espancada dentro da casa e os dois estavam no local. No entanto, apresentaram três versões desconstruídas pela polícia".

Em relação ao fato dos jovens terem fugido da Capital, Nelly salientou que eles não queriam se responsabilizar pelo crime. "Só apareceram quando a foto do padrasto começou a ser divulgada. Inclusive, durante todo o momento, ela tentou proteger o 'Kadu', mas as câmeras de seguranças comprovam que os dois estavam juntos no momento das agressões".

Para a conclusão do inquérito, foram ouvidas mais de 10 pessoas, incluindo o pai biológico do pequeno e da filha mais velha da jovem, de apenas 4 anos. A menina está em um abrigo pela decisão do Ministério Público de Mato Grosso do Sul.
 

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