Delegadas descrevem que Natali foi assassinada com 15 facadas e "muito ódio"
Natali Gabrieli da Silva de Souza foi morta pelo companheiro Cleber Correa Gomez após discussão
A quinta vítima de feminicídio de Campo Grande (MS) apenas em 2023, Natali Gabrieli da Silva de Souza, de 19 anos, foi morta com pelo menos 15 facadas. O autor do crime ocorrido no último sábado (1º) é Cleber Correa Gomez, de 30 anos. Nesta manhã, delegadas da 1ª Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (1ª-Deam) explicaram maiores detalhes do crime.
A jovem foi morta no Bairro Parque do Lageado. O autor do crime é marido dela. O caso ocorreu após discussão do casal durante uma reunião de família dentro da residência e na presença da filha que tinham juntos, de apenas 1 ano e quatro meses.
Antes de ser capturado pelo Grupo de Operações e Investigações (GOI), da Polícia Civil de Campo Grande, e preso em flagrante, o autor tentou fugir, explicou a titular da 1ª-Deam, Elaine Benicasa. Segundo a delegada, Natali de Souza não possuía registro de boletim de ocorrência contra o autor, mas uma antiga companheira dele registrou ocorrência de vias de fato que envolvia o feminicida enquanto ainda estavam juntos.
A delegada responsável pelas investigações, Analu Lacerda Ferraz detalhou que Cleber Correa Gomez foi interrogado e não comentou sobre o crime. “Utilizou seu direito constitucional de permanecer calado durante todo o interrogatório”, explicou. Outras testemunhas também foram ouvidas. “Acontecia uma festa no local dos fatos antes. Todos eles tinham ingerido bebida alcoólica”.
Conforme a delegada Analu Ferraz, Cleber demonstrou “bastante ódio” ao esfaquear a companheira. “Ela estava muito mutilada, o que é muito triste”. A jovem chegou a pedir “pelo amor de Deus” para que o companheiro parasse de esfaqueá-la, contaram testemunhas aos investigadores da Polícia Civil. “Foram mais de 15 facadas mutilando na verdade a vítima, o que retrata mais uma vez um crime de ódio, característico do feminicídio. Ódio pela condição de ser mulher”, enfatizou Elaine Benicasa.
Todos os presentes informaram que o casal discutiu em diversos momentos antes do feminicídio ser consumado. Cleber Gomez, inclusive, chegou a quebrar o celular da companheira. “Nós ainda estamos ouvindo as testemunhas para entender mais ou menos a lógica como tudo aconteceu”, contou a delegada responsável pelas investigações.
Antes de esfaquear Natali Gabrieli 15 vezes até a morte, Cleber chegou a quebrar uma garrafa de cerveja de vidro na cabeça dela. Nesse momento, a jovem saiu da casa e pediu socorro pelas ruas. No entanto, foi perseguida pelo autor do crime. A delegada Analu Lacerda Ferraz esclareceu que uma das testemunhas, irmão do feminicida, explicou que a filha do casal, de apenas um ano, estava no colo do autor e não de Natali Gabrieli, como outras testemunhas relataram.
“Nós já ouvimos o irmão e agora pela manhã devemos ouvir a esposa desse rapaz, que ficou com essa criança […] Mas nós vamos ouvir outras testemunhas para poder verificar o caso de o fato ter ocorrido na presença de descente, uma qualificadora do crime”, detalhou a delegada.
Mortas a facadas - Natali Gabrieli da Silva de Souza é a quarta vítima de feminicídio em Campo Grande deste ano morta a facadas pelos autores. Karolina Silva Pereira, de 22 anos, assassinada pelo ex-namorado, Messias Cordeiro da Silva, foi morta a tiros. A delegada Analu Ferraz explica que o fato ocorre porque, em grande parte dos casos, os crimes são consumados no âmbito da violência doméstica.
“Na maioria das vezes, o autor não está em posse de arma de fogo, e como o crime acontece no âmbito doméstico, dentro da casa, a única arma que as vezes ele têm é uma arma branca, no caso, uma faca”, pontua. Para a titular da 1ª-Deam, a faca denota aproximação entre o autor e a vítima. “Obviamente os crimes cometidos dentro do ambiente doméstico proporcionam ao autor essa aproximação com a vítima, num momento geralmente de raiva e discussão no interior da residência, é o primeiro instrumento que eles contam para praticar o crime”, contou Elaine Benicasa.
Cinco mulheres assassinadas - Desde o início do ano, cinco mulheres foram mortas na Capital por serem mulheres. Conforme a Lei 13.104/2015, conhecida como “Lei do Feminicídio”, esse crime é caracterizado por questões de gênero, quando a vítima é uma mulher e quando o crime envolver violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Dois dias antes do assassinato de Natali Gabrieli, Brenda Possidonio de Oliveira, de 25 anos, foi brutalmente assassinada por Lyennan Camargo de Mattos Oliveira, da mesma idade dela. Os crimes possuem características semelhantes: autores possuíam envolvimento amoroso com a vítima; filhos presenciaram o crime; as vítimas pediram socorro nas ruas.
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