Polícia

Caso Francielle: Justiça ouve relatos de torturas e espancamento

"Adailton introduzia uma faca no órgão genital de Francielle e a girava" disse uma das irmãs no depoimento

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Marina Romualdo
Francielle era mantida em cárcere privado e não tinha mais pele nas nádegas por receber choque elétrico (Foto: Reprodução/Rede Social)

Foi realizada nesta terça-feira (12) a primeira audiência de instrução, interrogatório e julgamento no caso de Francielle Guimarães, de 36 anos de idade, que foi morta estrangulada pelo marido, Adailton Freixeira da Silva, 46 anos, na rua Cachoeira do Campo, no bairro Portal Caiobá, em Campo Grande (MS). O corpo da vítima foi encontrado no dia seguinte, 26 de Janeiro.

Antes de ser morta, Francielle foi mantida em cárcere privado por aproximadamente 28 dias e, não tinha aparelho celular, para não ter contato com os familiares. As primeiras informações da morte, partiram do filho, que acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) relatando que a mãe teria tomado remédios e vindo a falecer. Porém, após perícia técnica foi constatado sinais de tortura no corpo da vítima como: as nádegas da vítima não tinham pele (por receber choque elétrico), equimose em região torácica, ferimentos na região cervical com edema periorbital e hematomas na região abdominal.

Durante a tarde de audiência, familiares da vítima prestaram depoimento. Ao todo, foram ouvidas nove testemunhas que relataram que Francielle era torturada e espancada por pedaço de madeira dentro do quarto do imóvel onde morava. Uma das irmãs da vítima, Gracieli Guimarães de Alcântara contou que durante as sessões de tortura, Adailton introduzia uma faca no órgão genital de Francielle e a girava e, que com a faca riscada as costas da mesma.

"Adailton não deixava a família visita-la, ela sempre tinha que sair escondida falando que precisava ir ao médico. Quando os filhos eram pequenos reclamavam que o pai batia demais na mãe e, nem eles, gostavam de voltar para casa". Nos últimos dias que teve contato com a vítima, ela teria ficado uns 3 dias na casa de Gracieli. Segundo ela, Francielle chegou com o filho, com o cabelo raspado de um lado, toda machucada e sem tomar banho".

Para mãe de Francielle, Ilda Guimarães Pereira, ela não encontra motivos para o acusado ter matado a filha. "Ela não deixava que as irmãs me contassem o que estava acontecendo. Quando perguntava o que tinha, ela dizia que era apenas uma briga". Além disso, Ilda deixou claro que o filho da vítima, o adolescente de 17 anos, que morava junto com os pais, falava aos familiares que a mãe estava feliz com o pai e também não deixava que Francielle tivesse contato com ninguém. Uma das frases relatando isso, era que o jovem dizia "quando minha mãe tiver um celular, vocês conversam com ela".

Mãe da vítima estava presente no Fórum
(Foto: Luiz Alberto)

No dia em que a vítima deixou a residência com a irmã Gracieli, foi no mesmo dia em que a Polícia Militar compareceu na residência por quatro vezes, através de denúncia anônima. Os policiais iam na casa de Francielle e ela dizia que estava tudo bem. Apenas a irmã conseguiu tira-la do imóvel, que após dois dias foi chamada pelo filho adolescente para ir almoçar na casa da sogra que, em seguida, voltou para casa no bairro Portal Caiobá e nunca mais saiu vivendo por aproximadamente 28 dias, em cárcere privado.

Residência onde aconteceu todo cenário de tortura
(Foto: Luciano Muta)

Uma outra irmã, Meirieli da Costa contou que durante os dias em que a vítima ficou na casa dos familiares, o bebê também estava machucado. "O pequeno estava com queimaduras de bituca de cigarros na barriga, no braço e nas costas. De acordo com ela, é o acusado que também maltratava do menino". Na residência onde tudo aconteceu, morava o Adailton, Francielle, o adolescente e a namorada, de 16 anos e o filho mais novo, de um ano e oito meses.

A namorada do jovem também prestou depoimento acompanhada da mãe, por ser menor de idade. Ela disse que via várias vezes Adailton com um pedaço de madeira na mão e entrava no quarto para espancar a vítima, porém, não escutava gritos. "A 'Ciele' como se referia a vítima, saia do quarto apenas para ir ao banheiro ou para comer com a gente na sala", finalizou a menina.

Com a volta de Francielle, para casa, o filho, de 17 anos, dizia para os familiares que a mãe estava viajando com o pai para uma chacára e que estava feliz. Porém, a mãe estava sendo torturada dentro do imóvel. Segundo a namorada dele, no dia do crime, Adailton foi avisar ele, que achava que a vítima estava morta. Em seguida, ele ligou para ela, ir até o endereço, pois, a mãe estava morta. E, concluiu, que chegou no local no mesmo dia e o corpo já estava no caixão. Mas, em depoimento, a irmã Gracieli, deixou claro que ligou para pax que estava responsável pelo corpo e que eles afirmaram que foram buscar a vítima apenas no dia seguinte durante a manhã.

O último a ser ouvido na audiência foi o adolescente, que é o único filho entre Adailton e Francielle. O depoimento não pode ser acompanhado por ser menor de idade. O acusado não compareceu nesta terça-feira (12), mas será interrogado no dia 9 de Maio. Além de Adailton, a prima do acusado, Maria Margareth foi indiciada por omitir o crime, dizendo que Francielle teria tomado remédios para tirar a própria vida.

O caso está sendo acompanhado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) e investigado como feminicídio, violência doméstica e familiar tortura, se resulta em morte, sequestro e cárcere privado, se resulta a vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza de detenção, grave sofrimento físico ou moral.

Havia câmeras espalhadas pela casa
(Foto: Luciano Muta)

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