Sem colchões para todos, presos dormem no chão e não recebem kits de higiene
Inspeção revelou cenário de violações em presídio de Ponta Porã que tem 324 vagas, mas abriga 526 detentos

Uma inspeção ordinária realizada pela Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul constatou superlotação extrema e deficiências estruturais graves na Unidade Penal “Ricardo Brandão”, em Ponta Porã. Conforme o coordenador do Núcleo do Sistema Penitenciário (Nuspen), a vistoria foi realizada no dia 26 de junho de 2025 e reuniu uma equipe composta por quatro defensores públicos e um servidor administrativo.
“O presídio abriga 526 presos em um espaço projetado para 324 vagas, o que representa ocupação 162% acima da capacidade e ultrapassa o limite máximo previsto pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), de 137,5%. Em algumas celas, originalmente construídas para quatro pessoas, há até 22 detentos — uma taxa de 500% de ocupação”, detalha o coordenador.
Além da superlotação, o documento registra infiltrações, goteiras, alagamentos, ausência de vasos sanitários e a ocorrência de infestação de baratas e escorpiões, com controle ineficaz. A inspeção também verificou o desabamento parcial de um dos muros da unidade, ocorrido em junho, agravando o risco à integridade física de internos e servidores.
Déficit de servidores - O relatório indica déficit crítico de policiais penais. No dia da visita, somente oito agentes estavam em serviço, embora o ideal fosse 105, segundo parâmetros nacionais. A falta de efetivo compromete a segurança operacional, a vigilância e até o cumprimento de rotinas básicas, como escoltas médicas e movimentações internas.
“Mesmo diante desse cenário, a equipe da Defensoria destacou a colaboração dos servidores da unidade durante a inspeção, sem qualquer embaraço às atividades do núcleo”, pontua o defensor.
Problemas graves - Os defensores constataram que os detentos recebem somente três refeições diárias, com intervalo de até 15 horas entre o jantar e o café da manhã. Relatos apontam comida malcozida, estragada ou insuficiente, e uso de utensílios improvisados como tubos de pasta de dente para comer.
“Em relação à assistência material, muitos internos dormem no chão por falta de colchões e nunca receberam kits de higiene. O fornecimento de roupas de cama, toalhas e cobertores é inexistente, e as visitas não podem entregar vestuário, o que agrava o quadro de vulnerabilidade”, pontua o coordenador.
A equipe também verificou atendimento médico limitado, ausência de psicólogo e apenas uma cela de enfermaria. Medicamentos se restringem a analgésicos comuns, e o acompanhamento odontológico ocorre somente em casos de urgência.
Visitas - As visitas ocorrem somente três vezes por mês, em ambiente sem cobertura ou bancos, o que expõe famílias e detentos ao sol e à chuva. O procedimento é feito por meio de body scan, o que substitui a revista vexatória, e visitas íntimas são autorizadas inclusive para casais homoafetivos.
“O relatório, no entanto, registra tratamento ríspido a familiares e restrições excessivas na entrega de pertences e alimentos, além de preços elevados na cantina onde os internos são obrigados a comprar itens que poderiam ser fornecidos pelos visitantes”, revela o defensor.
Recomendações - Entre as recomendações feitas pelo Nuspen estão a redução da superlotação, a contratação de mais policiais penais, a melhoria da ventilação e da salubridade das celas, o fornecimento regular de kits de higiene e colchões, e a ampliação das visitas e das oportunidades de trabalho e educação para os custodiados.
O relatório foi encaminhado a diversos órgãos, incluindo o Supremo Tribunal Federal, o Ministério da Justiça, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e o Governo do Estado.
“O que encontramos em Ponta Porã é um retrato preocupante das falhas estruturais do sistema prisional, que refletem diretamente na dignidade humana das pessoas privadas de liberdade. Nosso papel, enquanto Defensoria Pública, é garantir que o cumprimento da pena ocorra nos parâmetros legais e constitucionais, e não em condições degradantes. A superlotação, a falta de assistência e a ausência de políticas de saúde e ressocialização comprometem a função do sistema penitenciário e exigem respostas urgentes do Estado”, destacou o coordenador do Nuspen.
Confira aqui o relatório da íntegra: Relatorio_de_Inspecao___Ponta_Pora___atualizado___anonimizado___ass__1_.pdf
(Fonte: Assessoria de imprensa da Defensoria Pública de MS)
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