Pesquisa em parceria com UFMS encontra mosca rara após 74 anos
Até então somente dois exemplares dessa espécie eram conhecidos para a ciência


As moscas se tornaram objeto de estudo e motivaram uma busca de quase três semanas na Cordilheira dos Andes, localizada na costa oeste da América do Sul . Enquanto na cidade elas não são nada queridas pela população, a espécie em questão é raríssima, não era vista há sete décadas, e possui características muito diferentes – a começar pelo colorido preto com alaranjado.
A espécie rara e primitiva, chamada Descoleia teretrura, pode ser encontrada apenas na região da margem leste da Cordilheira. O pesquisador e diretor do Instituto de Biociências (Inbio), Ramon Mello, explica que a pesquisa trata-se de um trabalho de cooperação científica da UFMS com o Centro Regional de Investigaciones Científicas y Transferencia Tecnológica de La Rioja (Crilar), na Argentina.
A busca pelas moscas exóticas também mobilizou o pesquisador argentino Segundo Campero, e rendeu bons frutos, já que foram localizados 10 exemplares. A descoberta representa um marco: a última vez que a espécie havia sido avistada foi 74 anos atrás.
Os pesquisadores Ramon e Segundo Campero fizeram as buscas pelos insetos.
“Até então somente dois exemplares dessa espécie eram conhecidos para a ciência, um indivíduo macho coletado no ano de 1929 e uma fêmea em 1948. Somente no ano de 1956, a espécie foi formalmente descrita e nomeada. Desde então, nenhum outro exemplar foi encontrado, permanecendo um mistério para os entomologistas, que são os cientistas que estudam os insetos”, detalha Ramon.
O trabalho de busca não foi fácil. Os pesquisadores coletaram as espécies com a ajuda de uma rede, em um fruto específico que as larvas se alimentam. O fruto é sazonal e, portanto, a pesquisa deveria ser feita no período chuvoso nos Andes, quando as moscas adultas emergem dos frutos e reiniciam o ciclo de acasalamento e oviposição das larvas.
Para o professor Ramon, a descoberta é importante para o conhecimento sobre a fauna da região da Cordilheira e o entendimento evolutivo de toda a família à qual essa espécie de mosca pertence. “Com a coleta, foi possível desenvolver estudos relacionados aos hábitos de vida dos adultos e descobrimos que as suas larvas se alimentam de um fruto endêmico dessa região, pertencente à família das Curcubitacea, uma planta próxima da melancia e do melão”.
Espécie foi coletada em um fruto específico que as larvas se alimentam.
Depois da coleta do material, a próxima fase será realizada nos Laboratórios do Inbio. Inicia-se a etapa de sequenciamento do material genético dos insetos, que permitirá desvendar a origem evolutiva do grupo de moscas. “Desde que voltei da viagem, fiz fotos de microscopia eletrônica de varredura de indivíduos adultos, larvas e ovos das moscas. Em parceria com um pesquisador da Austrália iniciamos o sequenciamento molecular do DNA”.
Em novembro, o pesquisador passará mais vinte dias na Argentina à procura de moscas específicas da região, de espécies similares às já encontradas. Com base nos resultados do sequenciamento molecular e da morfologia das moscas, o objetivo é propor uma hipótese de relacionamento evolutivo entre os membros da família Pyrgotidae.
A descoberta das moscas raras é apenas o início de um trabalho que vai render bons resultados para a comunidade científica. O projeto desenvolvido pelo Laboratório de Sistemática de Diptera do Instituto de Biociências (LSD/Inbio), deve estabelecer uma parceria de longo prazo com o Centro Regional de Investigaciones Científicas y Transferencia Tecnológica de La Rioja (Crilar), abrindo a possibilidade de intercâmbio para estudantes e pesquisadores. “Para o ano de 2023, esperamos receber estudantes do Crilar para desenvolverem estágio no LSD”.
(Fonte: Assessoria UFMS)
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