Mãe e filho se reencontram após 11 anos separados
Menino foi abandonado e levado a uma casa de acolhimento; agora, mãe conseguiu a guarda provisória e uma medida protetiva contra o pai
| Redação

Foram 11 anos de saudade, dor e sofrimento, mas sobretudo de esperança. Separados de forma abrupta pelo pai, uma mãe e seu filho viveram mais de uma década distantes um do outro, sem notícias, sem abraços, sem a chance de viver o amor e o cotidiano que apenas o vínculo materno pode oferecer. Esta é história de Elizete e Enzo, que nesta semana puderam escrever um novo capítulo, marcado por muita emoção e alegria.
Após anos de maus tratos e vivendo em situação de vulnerabilidade, em janeiro deste ano o garoto Enzo, hoje com 13 anos, foi abandonado e levado a uma casa de acolhimento em Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul. Foi então que começou a incessante busca da instituição e do sistema de Justiça para encontrar a mãe e propiciar o reencontro entre os dois, que aconteceu nesta semana no Fórum da comarca.
“Meu filho foi levado de mim quando ele tinha dois anos, e nesse tempo todo tentei procurá-lo, mas sem sucesso. Não sabia onde ele poderia estar, mas nunca deixei de acreditar que estaríamos juntos novamente”, conta Elizete.
Em Abril, a equipe da instituição de acolhimento conseguiu localizar Elizete, que vive no interior de outro Estado com o marido e três filhos. Começaram os primeiros contatos e os dois passaram a conversar por videochamada, enquanto era feito todo o trâmite para possibilitar a recuperação da guarda na Justiça.
Mas o tempo, que tantas vezes parece cruel, agora se fez o justo: a mãe conseguiu na Justiça a guarda provisória de Enzo e uma medida protetiva contra o pai. Mais que isso, a partir de agora eles terão a oportunidade de reescrever uma história interrompida, reconstruir o que foi tirado e viver enfim como uma verdadeira família.
“Esperei tanto por esse momento, o coração estava batendo muito forte. Quando o vi, foi a hora que apertou. Não tenho palavras para dizer o que estou sentindo”, disse Elizete, entre lágrimas, logo após o primeiro abraço no filho em mais de 10 anos. “Nunca mais você vai ficar longe de mim, agora nossa família está completa e poderemos ser felizes de verdade”, completou.
O inesquecível e emocionante reencontro foi possível graças à atuação de duas profissionais da casa de acolhimento em que Enzo foi deixado, “dois anjos da guarda”, nas palavras de Elizete. A coordenadora Tânia Jacques da Cruz e a psicóloga Thais Nantes Zacarias, ao saberem da história do garoto afastado da mãe, não mediram esforços para encontrar e contatar Elizete.
“Ele chegou falando o que tinha acontecido com ele, que tinha uma mãe e que a gente precisava encontrá-la, porque ela o amava muito e ele queria muito ter a família de volta”, conta Tânia, coordenadora do Abrigo Seu Félix.
“Começamos a busca, encontramos uma parente dela e conseguimos chegar até ela. Quando recebeu a notícia, ela não acreditou, ficou em choque, mas depois disso foi uma grande emoção para todo mundo”, completa a psicóloga Thaís.
Após a localização da mãe, foi realizada uma audiência concentrada em que foi autorizado o contato virtual entre a genitora e o garoto acolhido para fins de reaproximação. Atendendo à determinação judicial, também foi feito um estudo psicossocial, com relatórios favoráveis à reintegração do jovem à mãe. Desta forma, o Ministério Público requereu a concessão da guarda provisória.
O momento emocionante do reencontro, que comoveu a todos, foi acompanhado pela reportagem do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, que irá omitir o novo local onde mãe e filho irão viver por questões de segurança.
“Esse é um caso que causa muita perplexidade até para quem lida diariamente com processos em que há violações a direitos infantojuvenis, porque mãe e filho ficaram longe um do outro por mais de 10 anos, separados indevidamente e sem nenhum contato. Nenhuma criança merece ser privada do contato materno ou paterno, quando esse contato é saudável”, explica a juíza do TJMS, Thielly Dias de Alencar Pitthan, titular da 1ª Vara Criminal da comarca de Ponta Porã, que decidiu pelo desacolhimento institucional, mediante guarda provisória concedida à mãe.
A magistrada acrescenta que a convivência familiar é um direito assegurado por lei, e por isso “é preciso que os pais, os responsáveis legais, reflitam e exerçam a parentalidade de forma responsável para que esse direito seja efetivamente assegurado. Lamentavelmente, vemos muito desamor nas varas de família, de infância, de violência doméstica e de crimes contra crianças e adolescentes”.
A assistente social do Fórum de Ponta Porã, Samia Mahmoud, também participou de todo o processo e não escondeu a emoção de acompanhar o reencontro. “É um sonho realizado para todos, vidas transformadas, e nós, enquanto Poder Judiciário, estamos aqui para isso: escutar, acolher, orientar quem precisa e transformar vidas”.
Hoje, a família de Elizete está completa e Enzo poderá viver com a mãe e os irmãos que nunca deixaram de acreditar neste reencontro. Com o apoio da rede de acolhimento e a atuação do sistema de Justiça, eles terão a chance de recomeçar uma história que foi drasticamente interrompida, mas agora, depois de 11 anos de sofrimento e espera, finalmente terá o final feliz que os dois sempre sonharam.
“É muito reconfortante conduzir um processo e acompanhar um desfecho como esse, em que há um reencontro entre mãe e filho, porque faz com que a gente continue acreditando na justiça”, finaliza a juíza Thielly Pitthan.
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