Jovem diz ter sido torturada e obrigada a abortar

Uma jovem de 19 anos afirma ter sido vítima de cárcere privado, tortura e ainda obrigada a tomar remédios abortivos que interromperam a gestação de três meses. Os acusados são o namorado da moça, a mãe dele e um amigo do rapaz. Os três estão presos.
O caso aconteceu na cidade de Eldorado, a cerca de 450 quilômetros de Campo Grande. Tudo começou na quinta-feira passada, dia 4, quando a jovem descobriu que estava grávida. Ela contou ao namorado, de 17 anos, que a convidou para ir a casa dele no dia seguinte conversar sobre o assunto.
Chegando ao local na sexta-feira, encontrou o namorado e um amigo, de 31, que trabalha com ele em uma farmácia na cidade. O dois tentaram convencê-la a tomar comprimidos de Cytotec – provavelmente adquiridos no Paraguai, já que sua comercialização é proibida no Brasil -- para interromper a gravidez, mas a menina se negava.
Pouco depois, a mãe do namorado, de 37 anos, chegou em casa e também passou a fazer coro aos apelos para que a jovem abortasse. Alterada, a mulher fazia várias ameaças, dizendo frases do tipo “para criar a criança, você precisa estar viva.”
Sem conseguir convencer a jovem, os três a trancaram no quarto e acirraram o tom das ameaças. Sem conseguir sair do local, a moça cedeu e tomou quatro comprimidos, mas se recusou a colocar um deles no canal vaginal. A mãe do rapaz e o amigo tiraram as vestes da garota e introduziram o comprimido à força, segundo relato da vítima.
No decorrer da tortura, a irmã da jovem telefonou, pois ela estava demorando. Mesmo sem que a vítima dissesse, a irmã percebeu que havia algo errado e acionou a Polícia Militar (PM).
Ao chegar ao local, a PM encontrou a jovem chorando e a colocou na viatura. No caminho para a casa, ela contou o que tinha acontecido aos policiais que a levaram ao hospital a cidade.
A jovem foi submetida a lavagens internas na tentativa de cortar os efeitos do remédio, mas ela acabou perdendo o bebê.
O namorado, a mãe e o amigo foram presos em flagrante. Conforme o delegado Pablo Ricardo Campos dos Reis, titular da delegacia de Eldorado, e responsável pelo caso, os três negaram o crime. “Já chegaram com um discurso bem ensaiado. Eles alegam que a chamaram para conversar sobre a criação do bebê. Porém, houve contradições nos depoimentos”, revela o delegado.
O trio disse desconhecer a presença do Cytotec no corpo da jovem, sugerindo que ela própria teria feito uso dos medicamentos antes de chegar a residência.
O delegado já pediu a prisão preventiva da mãe e do amigo e a internação do namorado, que ainda não é maior de idade.
Os três estão sendo acusados de cárcere privado, tortura e aborto sem consentimento da gestante. Os dois maiores também são acusados de corrupção de menores, por conta da participação do namorado da jovem no crime.
A vítima continua internada em observação no hospital da cidade.
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