Invasões do MST avançam no Brasil
Governo Federal não criticou publicamente as últimas invasões do movimento no sul da Bahia
As invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em terras produtivas avançam no país, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém silêncio em relação aos episódios. Ao menos cinco ações do movimento foram registradas na Bahia durante esta semana, e a mensagem do governo federal é de tentar resolver o problema "pelo diálogo", mas sem tecer críticas aos avanços.
O posicionamento do Executivo tem incomodado o setor agropecuário, aumentando o desgaste com a área. "As invasões ocorridas nos primeiros meses deste ano em diversas regiões são o resultado da conivência histórica com a impunidade. É o caminhar, lado a lado, por parte de alguns, com a depreciação da ordem e da lei", criticou a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
O grupo, um dos mais robustos do Congresso Nacional, atua na defesa ao direito de propriedade e contra invasões. "A segurança social demanda que a propriedade seja assegurada em qualquer hipótese. Invasões não são meios adequados para requerer a execução da reforma agrária. Nenhum ilícito pode ser justificativa ou meio para uma política pública", reforçou a FPA em uma nota de repúdio aos avanços do MST.
O presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBA), associação que representa o setor florestal para fins industriais, também criticou as invasões em fazendas da empresa Suzano, que atua na produção de celulose. "Além do flagrante desrespeito à legislação, as ações, em vez de promover justiça social, acarretam prejuízos econômicos e sociais, pondo em risco empregos e renda", afirmou Paulo Hartung.
Invasões na Bahia
Nesta semana, três fazendas da Suzano foram invadidas. Houve registro de derrubada de árvores em uma das localidades. A justificativa dada pelo MST é o descumprimento, por parte da empresa, de um acordo firmado em 2011 para o assentamento de famílias.
Além disso, o movimento afirmou que o ato serviu para denunciar a monocultura de eucalipto na região e o uso de agrotóxicos pela empresa. "Exigimos que arquem com os graves passivos ambientais, sociais e econômicos", declara a página oficial do movimento.
A Justiça determinou a reintegração de posse de uma das fazendas invadidas, em Mucuri, e previu multa de R$ 5.000 por dia em caso de descumprimento e uso de força policial para a retirada dos ocupantes. "As demais ações estão em análise, e a companhia espera receber a mesma determinação de reintegração de posse nos próximos dias", disse a Suzano em nota oficial. A empresa destacou que, no sul da Bahia, os trabalhos geram aproximadamente 7.000 empregos diretos e mais de 20 mil postos de trabalho indiretos.
"Cabe reforçar que a empresa cumpre integralmente as legislações ambientais e trabalhistas aplicáveis às áreas em que mantém atividades, tendo como premissas em suas operações o desenvolvimento sustentável e a geração de valor e renda, reforçando assim seu compromisso com as comunidades locais e com o meio ambiente", destacou a Suzano.
No norte da Bahia, também houve registros de invasão. Em Jacobina, mais de 150 pessoas ocuparam uma fazenda com a justificativa de que o local tem 1.700 hectares abandonados e reivindicaram a "desapropriação imediata" para a realização de uma reforma agrária. Os proprietários desmentem que a área esteja abandonada e acionaram a Justiça para responsabilizar os invasores.
No estado, o MST também ocupou a fazenda Santa Maria, na região da Chapada Diamantina, durante a Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra.
Avanço MST
As ocupações em massa na Bahia são as primeiras registradas no governo Lula, mas há, ao menos, 11 ocupações realizadas desde o início do ano. O número é o mesmo registrado durante todo o ano em 2021, segundo um levantamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, houve diminuição no número de ofensivas do MST. Ainda segundo o Incra, em 2020 foram contabilizadas seis invasões e, em 2019, sete. O número de registros é o menor desde 1995, quando o Incra iniciou os cálculos.
Em meio aos avanços, a resposta do atual governo não inclui críticas às ações do MST. O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, afirmou na última quinta-feira (2) que a pasta quer "resolver [o conflito] com diálogo".
"Vamos endereçar ao MST o pedido da Suzano de desocupação da área e temos o propósito de uma reunião com a Suzano e o MST na semana que vem", acrescentou. "Vou ligar para o MST, sugerindo a eles que possam negociar as questões relacionadas a esse terreno."
As invasões contrariam o discurso do presidente Lula. Na campanha eleitoral, o petista chegou a dizer que o MST não ocupava propriedades produtivas, como são as áreas da Suzano.
(Com informações Portal R7)
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