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Ex-maquinista revive histórias da ferrovia no “Café com a Vizinhança”

Nelson de Araújo compartilha memórias do Complexo Ferroviário neste domingo (23), na Casa Amarela, em Campo Grande

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Sandra Salvatierre
Antes do leilão e da privatização da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.), a ferrovia representava orgulho, pertencimento e estabilidade para gerações de trabalhadores. Nelson faz parte desse legado: seu pai e seu avô também foram ferroviários, e suas memórias de infância estão profundamente ligadas ao cotidiano dos trilhos. (Foto: Divulgação)

No próximo domingo (23), a partir das 8h30, a Casa Amarela recebe mais uma edição do “Café com a Vizinhança: Histórias do Tombamento, uma criação coletiva”, encontro gratuito que celebra a memória ferroviária de Campo Grande. O convidado desta vez é o ex-maquinista Nelson de Araújo, cuja trajetória se confunde com a própria história da ferrovia na Capital. O espaço fica na Rua dos Ferroviários, nº 118, no coração da cidade.

“Fui maquinista de 1984 a 2009, mas minha ligação com o Complexo Cultural Ferroviário começou muito antes. Mudei para a Rua dos Ferroviários, nº 733, em 1964, quando tinha apenas quatro anos. Cresci ouvindo os trens manobrando, buzinando, partindo e chegando. Faz parte de quem eu sou”, relembra Nelson.

Antes do leilão e da privatização da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.), a ferrovia representava orgulho, pertencimento e estabilidade para gerações de trabalhadores. Nelson faz parte desse legado: seu pai e seu avô também foram ferroviários, e suas memórias de infância estão profundamente ligadas ao cotidiano dos trilhos.

O convidado desta vez é o ex-maquinista Nelson de Araújo, cuja trajetória se confunde com a própria história da ferrovia na Capital.  (Foto: Divulgação)

 

“Levei almoço várias vezes para meu pai na rotunda, onde ele trabalhava como truqueiro e depois como escriturário. Também lembro do trem pagador… eu adorava pegar aquele envelope cheio de dinheiro, tudo em espécie”, conta, emocionado.

Durante a conversa, o ex-maquinista vai abordar aspectos históricos, culturais e arquitetônicos do Complexo Ferroviário de Campo Grande, destacando sua importância para a identidade da cidade. Após o relato, haverá um momento aberto para perguntas e curiosidades do público.

Mas nem só de lembranças felizes é feita essa história. Nelson também falará sobre o período que marcou o declínio da ferrovia no Brasil.

“Veio o período negro, com a privatização, no governo Fernando Henrique, em 1996. Começaram o sucateamento da RFFSA. Muitos trabalhadores foram demitidos, sonhos foram perdidos em tristeza, lágrimas e decepções. As empresas privadas só lucraram e não investiam. Decretaram o fim da nossa ferrovia”, lamenta.

O encontro integra a programação especial de fim de ano da Casa Amarela, espaço que promove a memória, a arte e o convívio comunitário. A proposta é reunir moradores, artistas, pesquisadores e curiosos em torno de um café, fortalecendo os laços afetivos com a história ferroviária da Capital.

“Tudo que se relaciona com a ferrovia e com aqueles que tentam manter viva essa história, eu sempre estarei pronto para contribuir. Estamos aqui de passagem, como passaram meu avô, meu pai e meus tios, que também foram ferroviários. Mas é nosso dever manter, contar e divulgar essa história para as novas gerações”, afirma Nelson.

Para a idealizadora do projeto e gestora da Casa Amarela, Tatiana De Conto, o encontro representa mais do que uma roda de conversa — é um ato de preservação simbólica.

“Esses relatos fortalecem o sentimento de pertencimento e ajudam a preservar a história viva do Complexo Ferroviário, que é um patrimônio afetivo da nossa cidade”, destaca.

 

(Foto: Divulgação)

 

Os depoimentos coletados serão registrados e compartilhados nas redes sociais da Casa Amarela, ampliando o acervo do Museu de Arte Urbana (MuAU), que transforma memórias em arte muralista e em narrativa visual urbana.

O projeto é realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), do Ministério da Cultura e do Governo Federal, por meio de edital da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), da Setesc e do Governo do Estado.


SERVIÇO


Café com a Vizinhança — Histórias do Tombamento.
Local: Casa Amarela — Rua dos Ferroviários, 118 — Campo Grande–MS.
Data: Domingo, 23 de novembro.
Horário: 8h30.
Instagram: @casa.amarela.muau.
Entrada gratuita | Classificação livre.
 

 

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