Diário Digital
 
Geral

Especialistas desvendam a Escuta Especializada para proteger crianças

Programa é uma iniciativa da Coordenadoria da Infância e da Juventude (CIJ) do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul

|
Redação
AddThis Website Tools
podcast foi pensado para dar visibilidade à escuta especializada que ainda precisar ser implementada na grande maioria dos municípios (foto: Divulgação)
O mais recente episódio do podcast "POD-FALAR, CRIANÇA", uma iniciativa da Coordenadoria da Infância e da Juventude (CIJ) do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, aprofundou o debate sobre um tema essencial e muitas vezes mal compreendido: a escuta especializada de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência. Nesse mês de abril a Lei nº 13.431 completou 8 anos e o podcast foi pensado para dar visibilidade à escuta especializada que ainda precisar ser implementada na grande maioria dos municípios.
 
Conduzido por Diógenes Silveira Duarte, assessor técnico da CIJ, o programa contou com a expertise de Doêmia Ceni, coordenadora de Apoio às Articulações Interinstitucionais do TJMS, Cátula da Luz Pelisoli, psicóloga judiciária do TJMS e estudiosa do tema, e da juíza Katy Braun do Prado, colaboradora da CIJ. 
 
Logo no início do episódio, Diógenes Duarte fez um esclarecimento essencial: escuta especializada e depoimento especial não são sinônimos. Enquanto o segundo é voltado à coleta formal de provas no processo judicial, a escuta especializada tem outro propósito — proteger, acolher, encaminhar e, sobretudo, não revitimizar.
 
“É um conjunto de procedimentos, não um ato isolado”, explicou Doêmia Ceni. Em sua fala, ela destacou as lacunas conceituais existentes na legislação atual e a urgência de compreender a escuta como parte de uma rede de cuidado. “Não é sobre interrogar. É sobre ouvir com empatia, com preparação e com limites”, disse.
 
Para a psicóloga judiciária Cátula Pelisoli, confundir a escuta especializada com produção de prova pode trazer sérios prejuízos. “A escuta não é para coletar provas. Isso é responsabilidade de outras instâncias. Usá-la como investigação é um erro que fere a criança, que pode ter que repetir a história, reviver a dor, e isso é revitimização”, alertou. 
 
Pelisoli foi enfática ao apontar que a escuta deve se adaptar à realidade da criança, e não o contrário. Centralizar a escuta em um único “profissional especializado” no município pode afastar a criança, sobretudo se ela não se sente segura. “Ela pode falar com a merendeira, com o porteiro, com a professora. São essas pessoas que precisam de formação básica para ouvir e acolher”, explicou. 
 
A juíza Katy Braun do Prado trouxe a perspectiva institucional e comunitária da escuta especializada, reforçando que ela acontece onde a criança vive: na escola, no posto de saúde, no hospital, no Conselho Tutelar. “É nesses espaços que a criança encontra um adulto de confiança. É ali que o acolhimento precisa acontecer”, destacou. 
 
Ela também abordou os desafios de se estabelecer fluxos padronizados, mesmo em grandes centros como Campo Grande. “Cada município tem suas particularidades. E a construção desses fluxos deve sempre priorizar a criança, evitando burocracias e deslocamentos que, muitas vezes, tornam-se uma nova forma de violência institucional”.
 
Durante o episódio, Cátula Pelisoli também explicou que a revelação de uma violência é, por si só, um processo psicológico complexo. Pode ser espontânea, estimulada ou até acidental. O papel da escuta é respeitar esse tempo e esse modo. “A escuta é nossa ação. A revelação é da criança. E precisa ser acolhida sem julgamento, sem pressa, sem pressão”.
 
Ao final da conversa, as convidadas foram unânimes em afirmar: a escuta especializada tem como foco o bem-estar da criança, e não a punição do agressor. Essa responsabilidade cabe ao sistema de justiça. “A escuta é o primeiro passo para cuidar, não para punir”, resumiu a juíza Katy Braun. 
 
Saiba mais – O episódio do POD-FALAR, CRIANÇA é um chamado à humanização das práticas institucionais, à formação contínua de todos os envolvidos na rede de proteção e à criação de ambientes realmente seguros para que crianças e adolescentes possam falar — e ser verdadeiramente ouvidos.
 
Na voz dos especialistas, fica o lembrete: escutar é mais do que ouvir. É acolher com responsabilidade, empatia e compromisso com a proteção integral da infância.

Veja Também

Prazo do IR 2025 acaba nesta sexta; veja como enviar em 10 minutos e escapar da multa

Show gratuito do Atitude 67 em junho no Parque das Nações Indígenas

Com 19 mil produtos, hospital de Câncer Alfredo Abrão realiza primeiro bazar do bem

Instituto de Inovação em Biomassa é vencedor de Prêmio Embrace da Natura