Equipamentos monitoram risco de enchentes na Capital
Ao todo, serão instalados 14 sensores de nível de água distribuídos estrategicamente
Quem passa pela Avenida Ricardo Brandão, em Campo Grande (MS), já deve ter reparado em um curioso equipamento na margem do Córrego Prosa. Trata-se de um radar com sensor de medição instalado para monitorar o risco de enchente no local.
Equipamentos semelhantes estão sendo colocados em outras bacias hidrográficas na área urbana de Campo Grande com o mesmo objetivo. A iniciativa é do projeto de Pesquisa HidroEX – Extremos Hidrológicos em Múltiplas Escalas, da Universidade Federal de MS.
As enchentes e inundações são processos naturais que acontecem quando uma bacia hidrográfica e seus afluentes não comportam a quantidade da água da chuva e transbordam temporariamente, daí a importância de monitorar estes locais.
O professor da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (Faeng) e coordenador do projeto, Paulo Tarso Sanches de Oliveira, ressalta a necessidade de ver esses processos como naturais, que são intensificados por fatores como o crescimento das cidades em áreas de risco ou a falta de um planejamento adequado.
“É importante falar que as enchentes sempre aconteceram e vão continuar acontecendo, pois são processos naturais. Durante muitos anos, os bairros e áreas pavimentadas foram aumentando sem um planejamento urbano adequado, fazendo com que a água fosse drenada de forma muito rápida diretamente nos rios e canais, proporcionando picos rápidos de cheias e consequentemente áreas de inundação. Além disso, regiões densamente pavimentadas, com poucas áreas permeáveis e com um sistema de microdrenagem insuficiente ou com pouca manutenção, têm gerado alagamentos em vários pontos da cidade”, explica.
Os estudos precursores sobre o tema foram iniciados em 2017 pelo coordenador, com a participação dos estudantes do Programa de Pós-graduação em Tecnologias Ambientais e financiado pelo projeto Sistema de Alerta e Previsão de Inundações para Bacias Urbanas do CNPq.
“O nosso objetivo era criar modelos capazes de simularem as áreas de inundação na Bacia hidrográfica do Prosa. Na época, usamos imagens aéreas e dados hidrometeorológicos coletados pela Prefeitura. Os estudos resultaram em um sistema de alerta em forma de aplicativo de celular, [além da] redação de teses, artigos e um livro”, relembra o coordenador. O projeto ainda serviu como base da proposta na área de cidades inteligentes para o projeto institucional Capes PrInt, Urban Waters: in direct to hydrical security (ou Águas Urbanas: direto à segurança hídrica, na tradução) que proporciona intercâmbio de estudantes e professores.
Com os estudos, o coordenador observou a necessidade de ampliar a pesquisa para as outras bacias hidrográficas da cidade: ao todo, são 11 bacias e 33 córregos. Portanto, foi necessário montar um sistema de coleta e análise de dados sobre volume e nível de água em tempo real.
“Nosso objetivo é ter todas as bacias hidrográficas monitoradas e modeladas para estabelecer os sistemas de alerta de inundação. O projeto possui duas frentes, uma para criar um sistema de alerta de inundações e outra para indicar soluções capazes de mitigar os problemas que as enchentes e inundações trazem”, detalha.
Até o momento, foram instalados na Bacia do Prosa um radar QR 30, sensores de nível de água, câmeras e uma estação meteorológica. Ao todo serão instalados 14 sensores de nível de água distribuídos estrategicamente em cada bacia estudada. O projeto recebe financiamento da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect).
“A partir do apoio conseguimos comprar equipamentos de ponta. Nós usamos bastante inteligência artificial (AI), e agora, vamos evoluir para medidas mais precisas de nowcasting (termo utilizado para indicar a previsão do presente, do futuro muito próximo e do passado muito recente) de informação meteorológica, que vai servir de dados de entrada para os nossos modelos hidrológicos e hidráulicos, que somadas à ação de machine learning, vão mapear todas as áreas de alagamento e inundação que ocorrem na área urbana de Campo Grande, possibilitando a previsão a curto e curtíssimo prazo”.
Toda essa tecnologia vai resultar em um sistema de alerta capaz de indicar quais as áreas urbanas inundadas e quando, possibilitando que a população desvie do local ou até evacue imóveis. “O sistema de alerta vai ser útil para evitar tragédias, perdas de automóveis e até da própria vida, tendo em vista que pessoas podem ser arrastadas pela água”, ressalta o coordenador do projeto.
Além de prever a ocorrência, o grupo ainda trabalha em parceria com a Prefeitura Municipal buscando formas viáveis de minimizar os problemas de inundação. O coordenador explica que o intuito é auxiliar, indicando soluções. “Como a construção de barragens de retenção ou sistemas e práticas alternativas de Low Impact Development (desenvolvimento de baixo impacto), como formas de retenção de água nos lotes urbanos, sempre avaliando quais efeitos relacionados aos picos e volumes de cheias. Também estamos estudando quais ações precisamos tomar para deixar a cidade menos vulnerável e mais resiliente em eventos extremos de chuva”, complementa.
Estão envolvidos no projeto cinco mestrandos, quatro doutorandos, e três graduandos do curso de Engenharia Civil e Ambiental da Faeng. Participam também pesquisadores de outras instituições parceiras, como o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a Universidade de São Paulo, a Universidade Estadual de Campinas, e ainda pesquisadores internacionais das universidades de Auburn, Nebraska, Princeton, Colorado e Arizona dos Estados Unidos, e Dresden na Alemanha. O projeto será finalizado em 2025, e a partir deste mês começam as medições na bacia do Lajeado, seguida da bacia do Segredo, do Anhanduí e as demais.
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