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Em uma década, 60,7% dos beneficiários deixam o Bolsa Família e indicam avanço social

Estudo da FGV mostra que jovens são os que mais superam a dependência do programa, enquanto ambiente familiar, escolaridade e mercado de trabalho influenciam a mobilidade socioeconômica

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Sandra Salvatierre
A pesquisa revela que a maior taxa de saída ocorre entre quem era adolescente na época. Enquanto a média geral ficou em 60,68%, o grupo de 15 a 17 anos alcançou 71,25%, indicando que sete em cada dez jovens deixaram de necessitar da transferência de renda ao longo da década. (Foto: Divulgação)

De cada dez pessoas atendidas pelo Bolsa Família em 2014, seis deixaram de depender do programa nos dez anos seguintes. A conclusão integra o estudo Filhos do Bolsa Família, apresentado na sexta-feira (5), no Rio de Janeiro, pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).

A pesquisa revela que a maior taxa de saída ocorre entre quem era adolescente na época. Enquanto a média geral ficou em 60,68%, o grupo de 15 a 17 anos alcançou 71,25%, indicando que sete em cada dez jovens deixaram de necessitar da transferência de renda ao longo da década. A seguir aparece a faixa de 11 a 14 anos, com 68,80%. Já entre crianças de até 4 anos, apenas 41,26% superaram a condição de vulnerabilidade no mesmo intervalo.

Os pesquisadores classificam esse público como a “segunda geração” do programa criado em 2003.

Fundação para mobilidade social

Autor do estudo, o economista Valdemar Rodrigues de Pinho Neto destaca que o Bolsa Família atua não só como rede de proteção imediata, mas também como mecanismo de mobilidade social. Ele enfatiza a importância das condicionalidades de saúde e educação — presença escolar, vacinação atualizada e acompanhamento pré-natal.

“É transferência de renda, mas também é investimento em capital humano. Esses jovens, com acesso a mais oportunidades, conseguem transitar para o setor produtivo e conquistar melhores condições de vida”, afirma.

Segundo ele, a saída contínua de beneficiários reforça a sustentabilidade da política pública. “Os filhos do Bolsa Família não permanecem necessariamente no programa. Isso sinaliza que a política cumpre sua função”, observa.

Entre os jovens de 15 a 17 anos que deixaram o programa, 28,4% tinham emprego formal dez anos depois, e 52,67% já não constavam no Cadastro Único.

Contexto que transforma trajetórias

O estudo mostra que o ambiente socioeconômico pesa diretamente na permanência ou saída das famílias:

Em áreas urbanas, 67% dos jovens (6 a 17 anos) deixam o programa, ante 55% de regiões rurais.

Famílias em que o responsável possui emprego formal registram taxa de saída de 79,40%; entre trabalhadores sem carteira, o índice cai para 57,51%.

Quando o responsável tem ensino médio, a taxa chega a 70%, frente aos 65,31% observados entre quem possui apenas o fundamental completo. 

“Pais com mais educação rompem o ciclo da pobreza intergeracional”, afirma Neto.

“Começo, não fim”

O ministro Wellington Dias comemorou os resultados: “O Bolsa Família não é um fim, mas um começo. É difícil estudar ou trabalhar convivendo com a fome. O programa abre caminho para novos passos.”

Tendência recente: saída mais rápida

A FGV também analisou dados do Novo Bolsa Família, reformulado em 2023. Entre os beneficiários daquele ano, 31,25% haviam deixado o programa até outubro de 2025. Entre adolescentes de 15 a 17 anos, o índice sobe para 42,59%.

Nesse período, a entrada mensal de novas famílias (359 mil, em média) ficou abaixo do volume de saídas (447 mil), sinalizando um ritmo de autonomia crescente.

“Assim como a segunda geração teve desempenho superior à primeira, espera-se que a terceira supere a segunda”, projeta Pinho Neto.

A divulgação ocorre na mesma semana em que o IBGE anunciou que 8,6 milhões de brasileiros saíram da pobreza em 2024 — o menor percentual desde o início da série, em 2012. A combinação entre mercado de trabalho aquecido e políticas sociais ajudou a reduzir a vulnerabilidade.

Novos instrumentos de autonomia

O pesquisador destaca dois elementos do programa atual: a regra de proteção, que preserva o benefício temporariamente para quem consegue emprego, e o Programa Acredita, voltado ao microcrédito para empreendedores de baixa renda.

“A transição para o mercado de trabalho precisa ser suave. Essas ferramentas evitam decisões drásticas e dão segurança à família”, explica.

Estrutura do programa

Para receber o Bolsa Família, a renda mensal por pessoa deve ser de até R$ 218. O benefício base é de R$ 600, podendo ser ampliado conforme a composição familiar. O valor médio atual é de R$ 683,28. Em novembro, o programa atendia 18,65 milhões de famílias, com custo mensal de R$ 12,69 bilhões.

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