'Ele queria humilhar, se vingar de algo que nem existia', diz delegada

A esposa do pastor Jesus Dalnivo Coelho Gorgs, de 40 anos, vítima de cárcere privado e que teve as agressões transmitidas ao vivo na internet, também sofreu tortura para confessar uma traição que, segundo a polícia, não existiu. A mulher, prestou depoimento na DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) no início da madrugada desta sexta-feira (13), após passar por atendimento médico.
Segundo a delegada responsável pelo caso, Maíra Pacheco Machado, a vítima relatou estar casada há cinco anos e até janeiro de 2020, o marido sempre foi tranquilo, apesar de sofrer de depressão e fazer uso de medicamento controlado. Porém, há três meses, a mulher realizou cirurgias estéticas e o pastor se tornou ciumento e agressivo. “Ele não concordava com o fato dela investir na autoestima”.
Conforme o depoimento da vítima, na noite anterior ao fato, ela e o esposo foram a uma festa. Como já estavam com a relação desgastada por conta das brigas por ciúmes e desconfianças do pastor, ela pediu que um casal de amigos da mesma congregação da igreja dormisse na casa na tentativa de apaziguar o comportamento do marido.
Por volta das oito horas da manhã de quinta-feira (12), enquanto a vítima se arrumava para trabalhar, o marido trancou a porta do quarto e não permitiu que ela saísse, retirou o seu celular e passou a agredi-la. Com uma tesoura, ele cortou o cabelo da mulher e suas roupas, a deixando nua. Foi a partir deste momento que os vídeos começaram.
Utilizando-se da rede social da vítima, o pastor fez as transmissões ao vivo alegando que ela teria um relacionamento extraconjugal. Ao assistirem as imagens, familiares e amigos acionaram a polícia.
A mulher diz que o marido fantasiava um amante na casa e era possível vê-lo pelas imagens das câmeras de segurança transmitidas no celular da vítima. Porém, conforme a polícia, não tinha mais ninguém no imóvel, além dos dois casais.
Ainda conforme o depoimento, a mulher afirmou que nunca havia sido agredida ou ameaçada pelo marido até o dia dos fatos. “O desejo dele era expor, humilhar a vítima e tirar uma confissão dela de algo que só existia na mente dele, pelo ciúmes excessivo, controle, posse ”, explicou a delegada.
“Como ele tem essa noção de posse, de propriedade, essa questão cultural de que o homem seria proprietário daquela vida, a partir do momento em que ele percebeu que a esposa estava investindo nela, na autoestima, ele não conseguiu lidar com isso e começou a imputar a ela uma conduta leviana”.
Diante do depoimento da vítima, Jesus Gorgs também foi acusado de tortura, além de cárcere privado, ameaça, lesão corporal e divulgação de cenas íntimas da vítima.
Após a repercussão do caso, a igreja Assembleia de Deus, à qual o pastor era ligado, anunciou a expulsão dele da denominação religiosa. Jesus Gorgs passou por audiência de custódia manhã desta sexta-feira (13) e teve a prisão em flagrante convertida a preventiva.
Depoimento das testemunhas – Logo após o flagrante, a polícia ouviu o casal de amigos que estava na casa da vítima no Bairro Giocondo Orsi, em Campo Grande. Segundo o homem, ao notar que passava das nove horas da manhã e os moradores não saíram do quarto para trabalhar, ele foi até o cômodo. Sem abrir a porta ou janela, Jesus gritava ao amigo que a esposa teria cometido traição e o amante estava dentro da casa. Mesmo com o amigo explicando que não havia ninguém no imóvel além deles o pastor ameaçava matar a esposa que pedia ajuda.
Um dos policiais militares que atendeu a ocorrência relatou que Jesus estava muito alterado e não permitia a entrada da equipe do quarto onde estavam trancados. “O autor estava muito nervoso, ameaçando furar os olhos da vítima com a tesoura ou atentar contra a própria vida”.
Mesmo com a chegada dos policiais do Batalhão de Choque, Jesus “estava irredutível quanto a causar mal a vítima”.
Depois de mais de duas horas de negociação com uma equipe do BOPE (Batalhão de Operações Especiais), os policiais tiveram que invadir o quarto e imobilizar Jesus para a vítima ser liberada.
Versão de Jesus Gorgs – Segurando a bíblia nas mãos durante todo o depoimento, o pastor negou os fatos a polícia e atribuiu toda a responsabilidade do que houve a vítima. Ele afirma que há quatro meses, estaria sendo drogado pela esposa com Rivotril (remédio com efeito sonífero) e anfetaminas para que ele dormisse e ela pudesse “colocar o amante dentro de casa”.
O pastor contou que ao acordar teria visto o amante da mulher sair do quarto do casal, o que gerou a discussão. Jesus ainda afirmou que quem o trancou no cômodo foi a própria esposa, depois dele dizer que iria se separar. Assim como nega a autoria dos vídeos e as agressões, dizendo que foi a vítima quem fez as gravações e pegou uma tesoura para agredi-lo.
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