'Ele dizia: você está ridícula com esta roupa', relembra professora que sofreu violência emocional
Relato foi feito durante aula do Projeto Em Defesa Delas no Bairro, da Defensoria Pública de MS
A professora Cristhiany Aguiar, de 46 anos, compartilha parte do sofrimento vivido com o ex-marido. “Ele dizia: ‘você está com a calça da sua filha, você não está entendendo que está ridícula a tua roupa?’. Aí eu ia lá e trocava. Aí eu ia na loja e comprava uma calça mais solta. Ele me atacava novamente: ‘Não sei aonde você compra essa roupa que está horrível, não combina com você’. Então nada combinava. E eu fui perdendo a minha identidade", relembra.
O relato dela causou comoção durante a oitava aula do Projeto Em Defesa Delas no Bairro, desenvolvido pela Defensoria Pública de MS, que discutiu os crime mais recorrentes praticados contra as mulheres.
"Fui trocando um salto, por tênis, depois bota. Eu ia para outros estilos e eu me perdi. Eu perdi a minha identidade. E graças a Deus, com assistência psicológica do Ceam, eu pude rever e me encontrar de novo. Mas até isso eu havia me perdido, eu tinha perdido o autocuidado, eu me perdi toda, eu perdi a minha estrutura. Porque se fosse violência física, minha família tinha presenciado, mas a emocional, não. Quando chegou ao fim, oi quando eu observei, mas demorou a ficha a cair”, acrescentou a professora.
A coordenadora do Núcleo de Defesa da Mulher (Nudem), defensora pública de 2ª instância Zeliana Luzia Delarissa Sabala, explicou cada tipo de crime iniciando com a violência psicológica, os tipos de violências físicas e sexuais, bem como as qualificadoras como o feminicídio.
“Até 2021 a violência psicológica era uma forma de violência, mas não era tipificada no código penal. A Lei 14.132/2021 no seu artigo 147-B, traz a figura do crime de violência psicológica contra a mulher. O artigo descreve como conduta ilícita o uso de ameaças, constrangimentos, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou outros, para controlar ações, comportamentos, crenças e decisões da mulher, causando dano emocional ou prejuízo à saúde psicológica”, pontuou a coordenadora.
A coordenadora reiterou, durante o debate, que conseguir retirar uma vítima do ciclo de violência não é tarefa fácil e não pode haver desistência. “É uma conversa constante, repetitiva, mas não podemos desistir. É importante que a vítima que se encontra no ciclo de violência saiba que tem alguém com quem contar, porque a qualquer momento ela pode tomar consciência, e é nessa hora que precisamos estar prontos para acolher”, destacou a coordenadora.
Sobre o feminicídio, que é um crime de ódio baseado no gênero, a coordenadora apresentou alguns dados: em 2022, foram registrados 42 feminicídios em Mato Grosso do Sul; 30 em 2023; e até o dia 21 de junho de 2024, já ocorreram outros 16 casos.
Quanto à discussão de gênero, a coordenadora ressaltou que o contexto muda ao longo do tempo. As funções de homens e mulheres e as relações sociais entre eles variam de uma geração para outra, sob determinadas situações e intervenções. Por isso, é necessário garantir que as novas gerações compreendam que não existe uma divisão única entre os gêneros e que, principalmente as mulheres podem fazer e ser o que quiserem.
Denuncie - Para combater essa realidade, é essencial que as vítimas tenham acesso facilitado a canais de denúncia, como o 190, o disque 180, e que haja um fortalecimento das redes de apoio e proteção.
A Defensoria Pública tem um papel fundamental na defesa dos direitos das mulheres e oferece assistência jurídica e psicológica gratuita às vítimas.
Se você precisa de ajuda ou conhece alguém que precisa o Nudem atende na Avenida Afonso Pena, 3850, e na Casa da Mulher Brasileira.
Projeto - O projeto Em Defesa Delas no Bairro é realizado por meio de um convênio firmado entre a Defensoria Pública de MS e a União, por intermédio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que tem o objetivo de promover a educação em direitos e a ampliação do acesso à justiça para as mulheres em situação de violência de gênero.
Confira a programação das duas últimas aulas:
01/07–19h/21h–Violência doméstica e familiar e os Direitos das Crianças e dos Adolescentes Palestrante: Coordenadora do Nudeca, Debora Maria de Souza Paulino
08/07–19h/20:30h–Mulheres Cidadãs: Conhecendo os direitos de todas as mulheres
Palestrante: Coordenadora do Nudedh, Thaisa Raquel Medeiros de Albuquerque Defante.
(Com informações da assessoria de imprensa da Defensoria de MS)
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